Lesão do Tríceps: Diagnóstico, Tratamento e Reabilitação
- Dr. Leonardo Moraes
- 23 de abr.
- 4 min de leitura

A lesão do tríceps braquial é uma condição relativamente rara, representando apenas 0,8% de todas as lesões de tendão. No entanto, quando ocorre, pode comprometer significativamente a função do cotovelo e do membro superior, afetando a capacidade de realizar atividades cotidianas e esportivas. Este artigo explora em detalhes a anatomia do tríceps, os mecanismos de lesão, o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação pós-operatória.
Anatomia do Tríceps Braquial
O tríceps braquial é um músculo grande localizado na parte posterior do braço, responsável principalmente pela extensão do cotovelo. Ele é composto por três cabeças:
Cabeça longa – Origina-se da tuberosidade infraglenoidal da escápula.
Cabeça lateral – Origina-se da face posterior do úmero, acima do sulco radial.
Cabeça medial – Origina-se da face posterior do úmero, abaixo do sulco radial.
As três cabeças convergem para formar um tendão único que se insere no olecrano da ulna. Essa estrutura é essencial para os movimentos de extensão do cotovelo e para a estabilidade do membro superior durante atividades como levantar peso e empurrar objetos.
Fatores de Risco para Lesão do Tríceps
Embora as lesões do tríceps sejam incomuns, há alguns fatores que aumentam a predisposição para sua ocorrência, incluindo:
Doenças sistêmicas crônicas – Como hiperparatireoidismo, osteodistrofia renal, osteogênese imperfeita, artrite reumatoide e diabetes tipo I.
Uso de esteroides anabolizantes – Aumenta o risco de enfraquecimento e ruptura dos tendões.
Injeções locais de esteroides – Contribuem para a degeneração do tendão.
Uso de fluoroquinolonas – Está associado a um maior risco de ruptura de tendões.
Bursite olecraniana crônica – Inflamação crônica na região do cotovelo pode fragilizar a estrutura do tendão.
Estudos mostram que as rupturas do tendão do tríceps são mais comuns em homens entre 30 e 50 anos.
Mecanismos de Lesão
As lesões do tríceps geralmente ocorrem devido a traumas ou sobrecargas em situações específicas. Os principais mecanismos de lesão incluem:
Contração excêntrica forçada – Quando o tríceps é submetido a uma força de extensão enquanto está sendo alongado.
Queda sobre a mão estendida – O impacto pode sobrecarregar o tendão, levando à ruptura.
Força direta posterior no cotovelo – Trauma direto na região posterior do braço.
Levantamento de peso – Especialmente em exercícios como supino, onde há grande demanda sobre o tríceps.
Esportes de contato e resistência – Atividades como fisiculturismo e futebol americano aumentam o risco de lesões por sobrecarga repetitiva.
Sintomas e Diagnóstico
Os pacientes com lesão do tríceps geralmente relatam:
Sensação de estalo ou rasgo agudo na parte posterior do cotovelo
Dor intensa, edema e equimose (manchas roxas) na região afetada
Diminuição da força na extensão do cotovelo
Incapacidade de estender o cotovelo contra resistência em casos de ruptura completa
Sensibilidade e lacuna palpável sobre o olecrano
Exames de Imagem
Para confirmar o diagnóstico e determinar a gravidade da lesão, são utilizados exames de imagem:
Radiografia – Útil para identificar avulsões ósseas do olecrano, conhecidas como sinal de Dunn-Kusnezov.
Ressonância Magnética (RM) – Considerada o exame mais preciso para avaliar a extensão da lesão e o envolvimento das estruturas associadas.
Ultrassonografia – Método alternativo que pode distinguir entre rupturas parciais e completas.
Tratamento das Lesões do Tríceps
O tratamento das lesões do tríceps depende da extensão e gravidade da lesão, além das condições clínicas do paciente.
Tratamento Não Cirúrgico
Indicado para:
Rupturas parciais que envolvem menos de 50% do tendão
Pacientes idosos ou com comorbidades que contraindiquem a cirurgia
Estilo de vida sedentário
Conduta:
Imobilização inicial em 30° de flexão por 4 a 6 semanas
Ajuste progressivo da flexão até atingir a amplitude total de movimento (aproximadamente 12 semanas)
Exercícios de fortalecimento progressivo após 12 semanas
Retorno completo à função entre 6 e 9 meses
Tratamento Cirúrgico
Indicado para:
Rupturas completas
Rupturas parciais com envolvimento de mais de 50% do tendão
Casos em que o tratamento não operatório não foi eficaz
Técnicas Cirúrgicas:
Reparo cruciforme transósseo – Utiliza pontos de sutura através de perfurações no osso.
Reparo com âncora de sutura – Técnica que utiliza âncoras para fixar o tendão ao osso.
Reparo artroscópico – Técnica menos invasiva, mas que ainda requer mais estudos para avaliação da eficácia.
Reconstrução em Lesões Crônicas
Lesões com mais de 6 semanas de evolução podem exigir reconstrução em vez de reparo direto.
Enxertos utilizados:
Tendão de Aquiles
Palmar longo
Semitendinoso
Ancôneo
Tendão plantar
Reabilitação Pós-operatória
A reabilitação é essencial para o sucesso do tratamento cirúrgico. Os objetivos principais incluem:
Proteção do tendão reparado
Prevenção da rigidez do cotovelo
Restauração da força e amplitude de movimento
Protocolo de Reabilitação:
Imobilização por 12 a 15 dias em 90° de flexão
Limitação da flexão passiva do ombro a 90° por 6 semanas
Exercícios de fortalecimento progressivo após 12 semanas
Recuperação total da função entre 6 e 9 meses
A lesão do tríceps braquial, apesar de rara, pode ter um impacto significativo na função do cotovelo e na qualidade de vida do paciente. O diagnóstico precoce, combinado com um tratamento adequado e um protocolo de reabilitação bem estruturado, são fundamentais para garantir uma recuperação completa e um retorno seguro às atividades físicas e esportivas.
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