Remplissage no Tratamento da Instabilidade Anterior do Ombro
- Dr. Leonardo Moraes
- 7 de mai.
- 3 min de leitura
A instabilidade anterior do ombro é uma condição comum, especialmente entre atletas e indivíduos jovens ativos. Uma das lesões associadas a essa instabilidade é a lesão de Hill-Sachs, que pode comprometer a estabilidade articular e aumentar o risco de luxações recorrentes. Neste contexto, o procedimento de "remplissage" tem ganhado destaque como uma opção terapêutica eficaz.
O que é o Remplissage?

"Remplissage" é uma palavra francesa que significa "preencher". No âmbito ortopédico, refere-se a uma técnica cirúrgica desenvolvida para tratar lesões de Hill-Sachs associadas à instabilidade anterior do ombro. O procedimento envolve a capsulodese posterior e a tenodese do músculo infraespinhal, com o objetivo de preencher o defeito ósseo na cabeça do úmero, convertendo-o em uma lesão extra-articular e, assim, prevenindo o "engajamento" da cabeça umeral com a borda anterior da glenoide.
Histórico do Remplissage
1890: Broca e Hartmann reconheceram o problema do "engajamento" da lesão de Hill-Sachs em uma glenoide deficiente.
2000: Burkhart e De Beer destacaram o papel das deficiências ósseas na falha dos procedimentos de estabilização artroscópica.
2008: Wolf e Pollock apresentaram a técnica de remplissage para preencher a lesão de Hill-Sachs, além de uma reparação artroscópica de Bankart.
Importância dos Defeitos Ósseos na Instabilidade do Ombro
A perda óssea significativa da glenoide (≥ 25%) pode resultar em uma "pera invertida", enquanto a perda óssea significativa da cabeça do úmero está associada a lesões "engaging". Estudos demonstram que procedimentos de Bankart artroscópicos em pacientes com perda óssea significativa da glenoide apresentam uma taxa de recidiva de 67%, comparado a 4% em pacientes sem perda óssea significativa.
Tratamento da Instabilidade do Ombro com Perda Óssea Significativa da Glenoide
Para perdas ósseas da glenoide entre 20% e 25%, o procedimento de Latarjet está bem estabelecido. No entanto, para lesões menores que 20% (subcríticas), há debates sobre a melhor abordagem. Alguns estudos indicam que perdas ósseas da glenoide maiores que 17,3% estão associadas a 43% de recorrência e piores escores funcionais, enquanto perdas menores que 17,3% apresentam 3,7% de recorrência e melhores escores funcionais.

Lesão de Hill-Sachs
Estudos cadavéricos mostram que perdas ósseas da cabeça do úmero entre 12,5% e 25% resultam em taxas mais altas de luxação anterior do ombro.
Tratamento de Lesões Bipolares
A perda óssea bipolar compromete ainda mais a estabilidade glenoumeral após o reparo de Bankart. As opções de tratamento incluem:
Bankart isolado
Bankart + Remplissage
Latarjet
O conceito de "glenoid track" é útil para determinar se haverá "off track" (engaging) ou "on track". Quanto menor a glenoide e mais medial a lesão de Hill-Sachs, maior a probabilidade de "engaging".
Bankart Isolado vs. Bankart com Remplissage
Um ensaio clínico randomizado acompanhou 108 pacientes por 2 anos com lesão de Hill-Sachs "off track" e perda óssea da glenoide menor que 15%. Os resultados mostraram 18% de recorrência no grupo Bankart isolado e 4% no grupo Bankart + Remplissage. Revisões de estudos também indicam taxas reduzidas de instabilidade recorrente no grupo com Remplissage.
Bankart com Remplissage vs. Latarjet
Em um estudo com 189 pacientes com perda óssea da glenoide subcrítica e lesão de Hill-Sachs "off track", o grupo Bankart + Remplissage apresentou 1% de complicações, enquanto o grupo Latarjet teve 12,1%. Não houve diferenças significativas nas taxas de revisão, episódios de instabilidade recorrente, escores funcionais e satisfação.
Uma meta-análise de 4 estudos com 379 pacientes mostrou que tanto o Remplissage quanto o Latarjet reduzem efetivamente a frequência de luxações, sem alterar a rigidez da articulação, em ombros com lesão de Hill-Sachs de 25% e borda da glenoide intacta. Isso indica que ambos os procedimentos podem ser opções de tratamento adequadas.
Atletas de Contato
Atletas de contato, especialmente homens jovens, têm um risco maior de falha após o reparo padrão de Bankart. Estudos mostram que esses atletas apresentam uma taxa de recorrência três vezes maior do que atletas sem contato após o reparo artroscópico de Bankart.
Revisões indicam que o Bankart com Remplissage resulta em taxas de recorrência menores e melhores escores funcionais em comparação com o Bankart isolado. No entanto, em atletas de contato com perda óssea da glenoide "subcrítica" (menor que 20%), o Latarjet teve melhores pontuações no WOSI e uma taxa de recorrência menor (30% vs. 0%) do que o Remplissage. Isso sugere que atletas de contato com primoluxação podem se beneficiar do Latarjet ou Bankart com Remplissage.
Alguns cirurgiões ainda tendem a realizar mais o procedimento de Latarjet do que o Remplissage em atletas de alto risco, independentemente da perda óssea da glenoide. Lesões bipolares com defeitos de Hill-Sachs de até 30% e defeitos da glenoide de até
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